BLOG OFICIAL do poeta e letrista. Parceiro de Agenor de Oliveira, Maurício Barros, Mauro Sta Cecília, Moacyr Luz, Nilson Chaves, entre outros. Com músicas interpretadas por Edy Star, Frejat, Moacyr Luz, Nelson Sargento, Ney Matogrosso, Thiago Amud, Viviani Godoy, entre outros. Autor de livros de poemas prefaciados por Antonio Cícero e Waly Salomão. Seus últimos trabalhos foram publicados pela Editora Texto Território.
4 - Crítica / Clipping
Melaço, por Ricardo Oiticica
O melaço de quando cana. O melaço enquanto sangue. O mel, enfim, do bagaço. É esse desvio semântico – de cana, mel e bagaço – que deixa Batalha de fora da lira edulcorada que se lê por aí.No porta-mala do poeta há presunto, no porta-luvas do poeta há presença, no seu porta-chave não há saída. Porque a coisa começa em Vigário Geral e acaba em Vaz Lobo, onde o poeta conhece, respectivamente, a banda Afroreggae, surgida da famosa chacina, e a pombagiruda Dezessete, que o trocou por “um policial tipo pulseira-de-prata-malvadão” que adora dar porrada em pederastas, piranha-assumida, ninfomaníacas, travestis, bicha-assumida, prostituta-tipo-praça-Mauá, isto é, odiava Copacabana. Pra quem vem do posto 6, como eu, é tomar a amarela via vermelha, logo depois de onde a favela derreteu, em seguida um valium via oral, e finalmente a Automóvel Clube, como quem procura “a quarta opção do semáforo”, numa região delimitada pelos cemitérios de Ira já e Inhaúma.
O poeta bem que avisou: “Cerol, para dinamitar tudo que for viga realista/ Cerol, para erguer novas pontes, pontas, poesias”. Depois que o viaduto derreteu, uma alternativa é a Suburbana, rebatizada D. Hélder Câmara sob protestos da Universal, que tem seu Vaticano bem na beira dessa pista. Pois bem: foi em Vaz Lobo que conheci Rogério Batalha, aluno da UniverCidade (cuidado revisores), num curso sobre a dialética da malandragem em que terminei aluno do aluno. (...)É uma poesia desconfiada de todo o poder, inclusive do da palavra, o que o põe na contramão das tendências formalistas: “mesmo que eu escreva/ a palavra flor/ cadê a haste?/ cadê o cheiro?/ cadê a cor?” (...) O poeta pertence a um time que toma de assalto a literatura bem-pensante dos inocentes do Leblon: Cigarros, cigarras vídeos, vinhos / Noite de autógrafo ou verão? / Imagina, a vida que eu queria / Livraria o Leblon. / Relíquias, revistas / Amigos de amídalas / Bafo na nuca da solidão / Eu é que não faço / As bainhas do coração. / A poética pós-túnel, para quem já descobriu o romance de Paulo Lins, oriundo da Cidade de Deus, e a prosa curta de Mauro Pinheiro, ganha com Rogério Batalha mais luz depois do túnel.
(Ricardo Oiticica, 2002)